15 músicas. 51 minutos. 2008.
01 – Calcanhar Mimoso
02 – Relação em Pratos Limpos
03 – Anorexia
04 – Lama
05 – O Mais Querido
06 – Lembranças da Planície Dourada
07 – Depois da Linda Chuva
08 – Desejo de Nascer
09 – Água
10 – A Síndrome da Vez
11 – Desafio na Floresta
12 – Cadê meu Pezinho
13 – Bailar é meu País
14 – Tudo que me Convêm
15 – O Paraíso das Baleias Cantantes....
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“Ar Silvestre” é Amauri Penteado, Alejandro Gutierrez, Gurcius Gewdner , Hans Konesky, Iuguru Magnor, J.W. Kielwagen, Marcius Gewdner, Marcuccelli Caldatto e Nietzsche Star divididos entre uma gama incrível de instrumentos diversos e fantásticos entre 2004 e 2007. BUL 0020. 2008. Produzido, editado e mixado por Gurcius Gewdner.
Capa e desenhos por Os Legais.
Texto de ARISTEU RUDNICK
Com muita demora acabo por realizar a resenha deste incrível lançamento e vem a triste conclusão, eu invejo Os Legais.
À revelia dos fãs mais hardcore da banda, a boa produção do novo disco é válida sim, situação até provocada na faixa “Relação em Pratos Limpos”, e para quem achou que a irreverência foi limada com o tempo, ela foi na verdade é lapidada, o que antes era um diamante bruto (ou carvão,
como preferirem) agora é uma portentosa peça de joalheria. Não se iluda com falsos profetas. O que há de genial neste CD é justamente essa subversão caótica e ao mesmo tempo fluida e infantil, como se crianças resolvessem tomar o mundo e recriá-lo como se fossem adultas. O resultado chocante é sublime e terno, numa total desconexão com padrões congelados de ética e moral, até porque isso é coisa de gente grande, surpreendendo ao expor como somos onfrontados com os nossos ideais e idéias. Esse estranhamento e gozo, ou na pior das hipóteses dúvida, por si já bastam para diferenciar e valorizar um bando de moleques que aparentemente nem sabe o que está tocando frente a mais uma desnecessária banda metódica e clássica, e isso sim que é especial, único. Sempre desde o início eu odiei a proposta idiota da “banda”, até porque me incomodava alguém ser pior que a banda que também tinha tocado, o Alpha Asian Malaria. E o que parecia ser apenas uma piada evoluiu e se transformou em um conceito mais amplo, coisa
descabida nesse gênero do Noise, Anti-Música.
O que esses caras fizeram ao longo dos anos mostra que a reciclagem não só de isopor mas de idéias tornou esse lançamento em especial, Ar Silvestre, em um divisor de águas no gênero,
provando que não se trata meramente de Anti-Música, como também é Música! É a impensável e impossível (até então) união do Noise com o Pop! Mesmo se tratando de uma compilação de sons já que a banda possui um acervo gigantesco de músicas gravadas e ainda não lançadas, a seleção para este CD foi inspirada e divina! Transformar ruídos em complexas harmonias não é qualidade única do Merzbow, temos aqui seguramente um exemplar digno da cultura brasileira, sem as fáceis fórmulas de regionalização, que pode afrontar de igual para igual com qualquer ícone mundial.
Vejo Os Legais como vanguarda na música experimental, contudo acho melhor eles não saberem disso. O fato é que este CD é uma obra-prima e poucos poderão perceber as sutilezas e os detalhes que justificam tal padrão sem se ater no alegado humor infantilóide, o humor que existe não é aquele intervalo atenuante da atmosfera violenta, é natural e siamês à violência, é a outra
faceta do mesmo cubo que leva ao inferno de Hellraiser. Um inferno bufão, fanfarrão, de Joker, do Coringa, do palhaço, com a vantagem de ser revertido após o término da audição... não totalmente!
Sabe, eles poderiam fazer uma música sobre esporrar na cara de um feto malformado soar como uma cantiga de ninar versando a declaração de independência feminina!
Afinal de contas, quem é digno de prêmio, os homens por evoluírem e construírem armas e espaçonaves ou as plantas que simplesmente repovoaram um planeta deserto e reconstituíram-lhe a vida? Fico com as plantas e as baleias. Putz, se bem que armas e espaçonaves são legais também...